Estudo associa endometriose a exposição a pesticidas organoclorados
09/03/2014 15:08
Um estudo do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle, EUA, descobriu que dois pesticidas organoclorados estão associados com um aumento do risco de endometriose, uma condição que afeta até 10% das mulheres em idade reprodutiva. Os pesquisadores observaram que as mulheres com excessivas exposições a dois desses pesticidas, beta-Hexaclorocicloexano e Mirex, apresentaram de 30 a 70% de aumento no risco de endometriose.
A endometriose é um estado não canceroso que ocorre quando o tecido que reveste o interior do útero cresce fora do órgão, em outras estruturas ou órgãos, como ovários, trompas de falópio e revestimento da cavidade pélvica. Os sintomas mais comuns incluem dor pélvica crônica, períodos menstruais dolorosos com fluxo intenso e infertilidade. Embora a sua etiologia não seja completamente compreendida, a endometriose é considerada uma doença relacionada ao estrogênio e que regride espontaneamente com a menopausa. O estudo em questão envolveu 248 mulheres diagnosticadas com endometriose e, para fins de comparação, mais 538 mulheres sem a doença. "Achamos interessante que, apesar de pesticidas organoclorados serem de uso restrito proibido nos EUA nas últimas décadas, essas substâncias eram detectáveis nas amostras de sangue de mulheres em nosso estudo e foram associados com risco aumentado endometriose", disse Upson. "A mensagem para levar para casa a partir de nosso estudo é que os produtos químicos ambientais persistentes, mesmo aqueles utilizados no passado, podem afetar a saúde da atual geração de mulheres em idade reprodutiva no que diz respeito a uma doença hormonal". Assim, os produtos químicos ambientais que são perturbadores endócrinos ou que podem imitar ou alterar a atividade hormonal endógena podem afetar o risco de endometriose. Pesticidas organoclorados (por exemplo, o DDT) são compostos sintéticos que foram utilizados na segunda metade do século XX como inseticidas. Apesar das proibições e restrições de uso ao longo das últimas décadas, ainda podem ser encontradas concentrações dessa substância, principalmente em alimentos gordurosos, peixes e laticínios. A exposição contínua aos pesticidas organoclorados é de potencial preocupação para a saúde humana, uma vez que estes produtos químicos em geral demonstraram propriedades estrogênicas em estudos in vitro e exibiram efeitos adversos no sistema reprodutivo em estudos com animais de laboratório, alterando funções uterinas e ovarianas, além de interferirem na produção de hormônios endógenos. Até então, os estudos realizados nessa área obtiveram resultados conflitantes, por isso os pesquisadores do estudo decidiram investigar o risco de incidência de endometriose relacionada à exposição ambiental ao pesticida. "Para muitas mulheres, os sintomas da endometriose podem ser crônicos e debilitantes, afetando negativamente a saúde, relações pessoais e produtividade no trabalho, por serem relacionados com qualidade de vida", disse a principal autora, Kristen Upson, pesquisadora e pós-doutora em epidemiologia. "Esta pesquisa é importante pois a endometriose é uma doença grave que pode afetar negativamente a qualidade de vida de uma mulher, mas nós ainda não temos uma compreensão clara de por que a endometriose se desenvolve em algumas mulheres mas não em outras. Nosso estudo fornece mais uma peça ao quebra-cabeça", comentou Victoria Holt, membro da Unidade de Pesquisa de Epidemiologia da Divisão de Ciências da Saúde Pública em Fred Hutch e professora de epidemiologia da Universidade de Washington School of Public Health. |